Planejamento reverso: você sabe como fazer?
O planejamento de ensino requer que nós, como professores, gestores, designers de aprendizagem, pedagogos, tutores, façamos uma mudança importante em nosso pensamento sobre a natureza do nosso trabalho e de como realizamos nosso planejamento – de currículo, de projeto pedagógico, de aula.
A mudança envolve inicialmente pensar muito sobre as aprendizagens específicas almejadas (competências e habilidades), antes de pensar sobre o que nós, como professores, vamos fazer ou oferecer nas atividades de ensino e aprendizagem (conteúdos). Embora considerações sobre o que ensinar e como ensinar possam dominar nosso pensamento como uma questão de hábito, o desafio é focar primeiro nas aprendizagens desejadas a partir das quais o processo ensino-aprendizagem irá se desenvolver.
Nossas aulas, unidades e cursos devem ser logicamente inferidos dos resultados buscados, e não derivados dos métodos, livros e atividades com os quais nos sentimos mais à vontade.
O currículo deve configurar as formas mais eficazes de atingir resultados específicos. Isso é análogo ao planejamento de uma viagem. Nossas referências devem fornecer um conjunto de itinerários deliberadamente planejados para atender aos objetivos culturais, em vez de resultar em um passeio sem finalidade a todos os locais importantes em um país estrangeiro. Em resumo, os melhores planejamentos derivam retroativamente das aprendizagens buscadas.
Não podemos dizer como ensinar ou quais materiais e atividades usar até que estejamos certos sobre quais compreensões específicas pretendemos e como essas compreensões se efetivam na prática. Poderemos decidir melhor, como guias, quais “locais” faremos nossos “turistas” alunos visitarem e qual “cultura” específica eles devem experimentar em seu breve tempo ali somente se tivermos certeza das compreensões particulares sobre a cultura que queremos que eles levem para casa. Somente especificando os resultados desejados podemos focar no conteúdo, nos métodos e nas atividades mais prováveis para atingir esses resultados.
Todavia, muitos professores começam e permanecem focados nos livros didáticos, slides organizados há anos, artigos científicos, aulas preferidas e atividades já consagradas – os insumos (inputs) – em vez de derivar esses meios do que está implícito nos resultados desejados – os resultados (outputs). Mesmo que pareça estranho, muitos professores focam no ensino, e não na aprendizagem. Eles passam a maior parte do seu tempo pensando, primeiro, sobre o que irão fazer, que materiais irão usar e o que irão pedir para os alunos fazerem em vez de primeiro refletir sobre o que o aprendiz precisará saber para atingir os objetivos de aprendizagem. Na realidade não é a toa que o primeiro documento entregue para os estudantes, pelo menos no ensino superior é o plano de “ensino”.
Com o objetivo de mudar e repensar a forma de planejar, os autores Wiggins, Grant; McTighe, Jay, no livro Planejamento para a Compreensão: Alinhando Currículo, Avaliação e Ensino por Meio da Prática do Planejamento Reverso, detalham um novo modelo para fazer isso.
Estágio 1: Identificar os resultados desejados
O que os alunos devem saber, compreender e ser capazes de fazer? Que conteúdo merece ser compreendido? Quais compreensões duradouras são desejadas? No Estágio 1, consideramos nossos objetivos, examinamos os padrões de conteúdo estabelecidos (nacionais, estaduais, municipais) e revisamos as expectativas do currículo. Como em geral temos mais conteúdo do que podemos sensatamente abordar dentro do tempo disponível, precisamos fazer escolhas. Esse primeiro estágio no processo de planejamento requer clareza quanto às prioridades.
Estágio 2: Determinar evidências aceitáveis
Como saberemos se os alunos atingiram os resultados desejados? O que iremos aceitar como evidência da compreensão e da proficiência dos alunos? A orientação do planejamento reverso sugere que pensemos sobre uma unidade ou curso em termos das evidências de aprendizagem colhidas na avaliação, necessárias para documentar e validar que a aprendizagem desejada foi atingida, não simplesmente como um conteúdo a ser coberto ou como uma série de atividades de aprendizagem. Essa abordagem incentiva os professores e planejadores de currículos a primeiramente “pensar como um avaliador” antes de planejar unidades e aulas específicas e, assim, considerar antecipadamente como irão determinar se os alunos alcançaram as compreensões desejadas.
Estágio 3: Planejar experiências de aprendizagem e instrução
Tendo em mente os resultados e as evidências apropriadas da compreensão claramente identificados, agora é hora de refletir sobre as atividades de ensino mais adequadas. Várias perguntas importantes devem ser consideradas neste estágio do planejamento reverso: quais conhecimentos (fatos, conceitos, princípios) e habilidades (processos, procedimentos, estratégias) estruturantes os alunos precisarão para ter um desempenho efetivo e atingir os resultados desejados? Que atividades irão equipar os alunos com o conhecimento e as habilidades necessários? O que será ensinado, e qual a melhor maneira de ensinar, à luz dos objetivos de desempenho? Que materiais e recursos são mais adequados para atingir esses objetivos?
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Um abraço!
Profa. Márcia Loch
WIGGINS, Grant. Planejamento para a compreensão: alinhando currículo, avaliação e ensino por meio do planejamento reverso. Porto Alegre: Penso, 2019.